quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Poesia...

Depois de muito refletir com o assunto, parece-me que um historiador deve também e necessariamente ser poeta, pois somente os poetas podem entender essa arte que consiste em ligar os fatos com habilidade.
(Novalis)

O historiador e o poeta não se distinguem um do outro, pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso (pois, se a obra de Herodoto fora composta em verso, nem por isso deixaria de ser obra de história, figurando ou não o metro nela). Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido. Por tal motivo a poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado que a história, porque a poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular.
(Aristóteles)

Prosa são palavras na melhor ordem possível; poesia são as melhores palavras possíveis na melhor ordem possível.
(Coleridge)


Contemplo como o igual dos próprios deuses
esse homem que sentado à tua frente
escuta assim de perto quando falas
com tal doçura,e ris cheia de graça.
Mal te vejo o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não saia minha voz,
a língua como que se parte,
corre um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar,
os meus ouvidos zumbem,
e banho-me de suor,
e tremo toda,e logo fico verde
como as ervas, e pouco falta
para que eu não morra ou enlouqueça.

A grega Safo foi a primeira poetisa ocidental de grande expressão entre os homens. Ensinava a arte poética para as mulheres na ilha de Lesbos, já que havia uma grande repressão social em relação à mulher, originando o uso da palavra lésbica. Mesmo depois de séculos, na sociedade renascentista italiana, esse preconceito ainda permanecia, sob uma nova face: as mulheres solteiras que não eram reconhecidas por suas criações artísticas eram vistas como prostitutas. Assim, restavam apenas duas opções, casar-se ou pertencer ao mundo artístico. Não é de se espantar, já que, embora as recentes lutas feministas ocorridas há quatro décadas tenha modificado muito a condição social da mulher, ainda perduram vários preconceitos sociais, ainda que velados.

Bendito seja o dia, o mês, o ano (Benedetto sia 'l giorno, e 'l mese e l'anno)
A sazão, o lugar, a hora, o momento (a la stagione, e 'l tempo, e l'ora, e 'l punto)
E o país de meu doce encantamento (e 'l bel paese, e 'l loco ov'io fui giunto)
Aos seus olhos de lume soberano (da' duo begli occhi, che legato m'hanno)

E bendito o primeiro doce afano (e benedetto il primo dolce affano)
Que tive ao ter de amor conhecimento (ch'i' ebbi ad esser con Amor congiunto)
E o arco e a seta a que devo o ferimento (e l'arco, e le saette ond'i' fui punto)
Aberta a chaga em fraco peito humano (e le piaghe che 'n fin al cor mi vanno)

Bendito seja o mísero lamento (Benedette le voci tante ch'io)
Que pela terra em vão hei dispersado (chiamando il nome de mia donna ho sparte)
E o desejo e o suspiro e o sofrimento (e i sospiri, e le lagrime, e 'l desio)

Bendito seja o canto sublimado (e benedette sian tutte le carte)
Que a celebra e também meu pensamento (ov'io fama l'acquisto, e 'l pensier mio)
Que na terra não tem outro cuidado (ch'è sol dilei, si ch'altra non v'ha parte)

Petrarca: Poemas de Amor (tradução de Jamir Almansur Haddad)

* Francesco Petrarca constitui, ao lado de Dante e Boccaccio, a tríade da literatura ocidental moderna. Humanista, teve em Laura a inspiração (e expressão) de um amor real, muita mais que a Beatriz de Dante (embora real, idealizada no campo poético), aparecendo em sua expressão poética as consequências desse estado de alma. A triade italiana influenciou os artistas renascentistas e, a partir de então, toda a cultura ocidental.

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